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Vírus Sincicial Respiratório: É perigoso para os bebés?

De novembro a março é considerada “época alta” dos vírus respiratórios e o Vírus Sincicial Respiratório é mais um entre os que integram esse lote. Mas que particularidades tem este vírus? Porque afeta, sobretudo, os bebés e as crianças mais pequenas?

27 Jan 2024 - 10:10

Vírus Sincicial Respiratório: É perigoso para os bebés?

De novembro a março é considerada “época alta” dos vírus respiratórios e o Vírus Sincicial Respiratório é mais um entre os que integram esse lote. Mas que particularidades tem este vírus? Porque afeta, sobretudo, os bebés e as crianças mais pequenas?

Ainda estamos a viver a época em que os vírus causadores de infeções respiratórias estão mais circulantes entre a população. Os que recebem mais atenção são os da família influenza, responsáveis pelos quadros clínicos de gripe, e mais recentemente o SARS-CoV-2, que causou a pandemia Covid-19.

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Estes vírus são os responsáveis pelas infeções respiratórias na população adulta. Contudo, quando se fala de bebés e crianças, o vírus sincicial respiratório (VSR ou RSV na sigla anglo-saxónica) é o que gera maiores preocupações entre os especialistas e os pais.

Aliás, segundo o mais recente Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe, publicado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, na época gripal que se iniciou em outubro de 2023, a faixa etária até aos dois anos de idade já tem “reportados 397 casos de internamento por RSV pelos hospitais”, sendo que “cerca de 49 % dos casos tinham menos de três meses de idade”.

Importa acrescentar que 17% eram bebés pré-termo – ou seja, nascidos antes de completadas 37 semanas de gestação – e 10 % dos casos tiveram mesmo “necessidade de ventilação ou foram internados em Unidade de Cuidados Intensivos”, refere-se no documento.

O pediatra Hugo Rodrigues e pediatra com diferenciação em Pneumologia Teresa Bandeira explicam ao Viral que vírus é este e que perigo representa para bebés e crianças pequenas.

Afinal, que é o Vírus Sincicial Respiratório?

Hugo Rodrigues começa pelo fundamental. Lembra que o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) “é um vírus respiratório sazonal que causa as comuns doenças respiratórias nos meses de inverno” e pode afetar pessoas de qualquer faixa etária.

Aliás, o pediatra da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, que é também professor na Escola de Medicina da Universidade do Minho, recorda que, durante o período da pandemia Covid-19, passou-se a ter uma perspetiva mais realista da incidência deste vírus na população em geral.

Nessa altura, os especialistas “procuravam ativamente este vírus, testando-o juntamente com o SARS-CoV-2 e o influenza A e B, nas outras faixas etárias e perceberam que o VSR também é responsável por outros quadros clínicos de infeções respiratórias, que também podem ser de alguma gravidade nos idosos”.

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As vias de transmissão do VSR são as mesmas de outros vírus respiratórios: o contacto direto com as gotículas respiratórias quando se tosse/espirra ou através de superfícies contaminadas por essas gotículas respiratórias.

Porque é mais perigoso para os bebés?

Apesar de todas as faixas etárias poderem ser infetadas com o Vírus Sincicial Respiratório, é “em crianças mais pequenas, até aos dois anos de idade, que o vírus pode evoluir para um quadro de bronquiolite”, explica Hugo Rodrigues.

A bronquiolite, como se pode ler na página do SNS24, “é uma infeção viral respiratória aguda das vias aéreas inferiores que dificulta a entrada do ar nos pulmões” e em 75% dos casos é causada pelo VSR.

A pediatra, que coordena da Unidade de Pneumologia Pediátrica no Hospital de Santa Maria e é regente da Disciplina de Introdução à Medicina da Criança na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, acrescenta que “são os dois primeiros anos de idade os mais suscetíveis ao desenvolvimento de bronquiolites e a doença grave ocorre sobretudo nos bebés até aos 6/9 meses de vida que são previamente saudáveis”.

O motivo para esta suscetibilidade é a anatomia dos bebés e das crianças com menos de dois anos de idade.

“Este vírus provoca uma inflamação nos brônquios e bronquíolos, que são as ramificações mais pequenas por onde passa o ar, e esta inflamação diminui o lúmen”, ou seja, o espaço interno dessas ramificações.

Como os bebés, pela sua anatomia, “já têm geometricamente estas estruturas mais pequenas do que uma criança ou uma pessoa adulta, [quando a inflamação acontece] acabam por chegar a uma fase de obstrução crítica mais depressa, porque, anatomicamente, não conseguem vencer essa resistência tão facilmente como a criança mais velha ou o adulto”, esclarece Teresa Bandeira.

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Esse é o motivo por que, acrescenta a especialista, sendo as doenças respiratórias “a principal causa de internamento de bebés previamente saudáveis e nos primeiros anos de vida [da criança], o VSR é o vírus mais importante. Não é o mais frequente, mas é o que apresenta maior gravidade”.

Quais os sintomas da infeção por Vírus Sincicial Respiratório?

Segundo refere o pediatra da ULS do Alto Minho, nos primeiros dois a três dias, a infeção “comporta-se como outra infeção respiratória qualquer”.

Os sintomas passam por alguma tosse, obstrução nasal, rinorreia (pingo no nariz) e, por vezes, pode surgir febre e alguma dificuldade em respirar.

O bebé pode ter pieira, uma espécie de assobio ao respirar, “os conhecidos «gatinhos», que são característicos e os pais reconhecem bem”, acrescenta o especialista. 

Teresa Bandeira insiste que, “a maioria dos casos não atinge critérios de gravidade, é uma doença ligeira, de evolução favorável, que nem sequer necessita de ser observada por um médico”.

Contudo, se a criança começa a apresentar dificuldade em alimentar-se, “apresenta um esforço respiratório muito grande – começa a fazer umas covinhas debaixo das costelas e a respirar mais depressa – e, no caso de bebés muito pequenos, ouve-se um gemido [ao respirar] e podem fazer pausas respiratórias, estamos perante uma situação grave que necessita ser avaliada por um médico rapidamente”. 

A coordenadora da Unidade de Pneumologia Pediátrica frisa que é importante os pais e cuidadores conhecerem o “ciclo da doença” provocada pelo VSR, que tem um início ligeiro, com um agravamento ao quinto e sexto dias e depois uma melhoria.

Por isso, se o bebé apresentar sinais de gravidade logo ao 3º/4º dia é sinal de alarme e de encaminhamento para avaliação do médico assistente. 

Como se trata esta infeção respiratória?

Não existem fármacos especificamente para o tratamento da infeção por VSR.

O que se pode fazer é o chamado tratamento sintomático, dirigido aos sintomas que o bebé apresenta, e apostar nas medidas de conforto.

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Hugo Rodrigues enumera: “Medicação para a febre se a criança estiver desconfortável, fazer lavagem nasal para desobstruir o nariz, elevar um pouco a cabeceira do berço para que a criança consiga otimizar a respiração. Na maior parte das vezes, basta isto.”

Nos casos em que a doença evoluiu para quadros clínicos de bronquiolite de maior gravidade, ou mesmo de pneumonia, é necessário o internamento para, refere Teresa Bandeira, “fazer um tratamento de suporte com oxigénio e alimentar o doente por outras vias”.

Podemos prevenir a infeção por Vírus Sincicial Respiratório?

Servem para este vírus exatamente as mesmas medidas divulgadas para a prevenção da gripe e da Covid-19: lavagem frequente das mãos, etiqueta respiratória e utilização de máscara.

A pediatra do Hospital de Santa Maria desaconselha levar bebés muito pequenos a espaços onde se encontram grandes quantidades de pessoas e recomenda que o bebé seja “preservado do contacto com adultos doentes”.

Se os adultos doentes forem os cuidadores, o melhor é colocar a máscara e, de seguida, lavar bem as mãos antes de cuidar do bebé.

Quanto às medidas de prevenção farmacológicas, já está aprovada para utilização em Portugal uma vacina para as grávidas vendida sob receita médica que não está incluída no Plano Nacional de Vacinação.

Esta vacina confere proteção nos primeiros meses de vida do bebé por intermédio dos anticorpos passados pela mãe durante a gravidez.

Na região da Madeira, a Secretaria Regional de Saúde do arquipélago decidiu incluir nos cuidados a todos os recém-nascidos a administração de um anticorpo monoclonal dirigido à imunização contra a infeção por VSR.

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Esta opção não está disponível em Portugal Continental para a população em geral.

A Direção-Geral da Saúde apenas recomenda este anticorpo monoclonal para grupos de risco, nomeadamente crianças com menos de dois anos diagnosticadas com algumas doenças, nomeadamente doenças cardíacas e pulmonares.

O Vírus Sincicial Respiratório pode causar a morte?

Os dados dizem que sim, o VSR pode causar a morte. Um estudo publicado em 2022 na revista Lancet analisou os dados de 2019 e concluiu que uma em cada 50 mortes registadas mundialmente em crianças dos zero aos cinco anos de idade resulta da infeção por este vírus. 

Contudo, Teresa Bandeira sublinhou que o panorama dos países desenvolvidos – na Europa ocidental, na América do Norte, na Austrália – é diferente do que acontece noutras regiões do globo

“Em países como o nosso, em que o acesso aos serviços de saúde, a atuação médica e a disponibilidade de oxigénio é geral, a mortalidade não é uma questão”, frisa.

No entanto, acrescenta, “nos países que não têm oxigénio disponível em todos os serviços e a acessibilidade aos serviços de saúde é mais restrita, então sim, é uma das causas importantes de mortalidade nas crianças abaixo de cinco anos”.

27 Jan 2024 - 10:10

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